Como viver menos abalado?

Longe de qualquer suposição de que eu consiga dar a você, leitor, as respostas para os seus próprios problemas, quero, no entanto, te fazer um convite e te mostrar que é possível viver menos abalado com a vida. Abalado, digo, no sentido de frequentemente estarmos preocupados demais com uma situação específica ou de interpretarmos alguns acontecimentos externos com certo exagero.

O texto de hoje é do nosso querido Epicteto, o escravo sábio. Epicteto nasceu escravo por volta do ano 55 d.C. em Hierápolis, Frígia, no extremo oriental do Império Romano. Seu mestre foi Epafrodito, o secretário administrativo de Nero.

Se quiser saber mais sobre Epicteto e sobre o livro que vamos discutir hoje, você encontra tudo em A Arte de Viver:

A Arte de Viver – Epicteto

Vamos ao texto:

O que realmente nos assusta e desanima não são os acontecimentos externos em si, mas a maneira como pensamos a respeito deles. Não são as coisas que nos perturbam, mas a forma como interpretamos seu significado.

Pare de se atemorizar com noções irrefletidas, reações impulsivas e com suas impressões sobre como as coisas são!

As pessoas e as coisas não são como desejamos que sejam nem o que parecem ser. São aquilo que são.

Antes de seguir em frente, vale deixar claro aqui que eu não sou relativista. Eu, particularmente, acredito em verdades absolutas sobre diversos assuntos. Mas, no que diz respeito às nossas emoções e interpretações de acontecimentos externos, precisamos ter equilíbrio. Leia o texto com essa mentalidade. 😉


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O que está e não está ao nosso alcance

Epicteto sempre gostou de deixar claro que existem coisas que estão ao nosso alcance e outras não. Para ele, inclusive, a felicidade e a liberdade começam com essa compreensão.

Consideramos coisas que estão sobre o nosso controle as nossas opiniões, desejos, vontades, assim como aquelas coisas que nos desagradam ou nos causam repulsa. Dizemos que estão no nosso controle porque temos a capacidade de mudar tudo isso.

As coisas que não estão no nosso controle, entretanto, dizem respeito ao tipo de corpo que temos, se nascemos ricos ou pobres, se temos herança ou não, ou a opinião dos outros a nosso respeito. Diante dessas coisas nós não temos controle algum. Quem é que pode escolher nascer rico? Ou quem é que pode escolher que tipo de corpo tem? Ninguém.

Soma-se a isso o fato de essas coisas serem externas e, consequentemente, não dependem de nós. Assim como Epicteto tem uma ideia simples (não simplista) sobre a felicidade e liberdade, ele também tem sobre a aflição e angústia: tente mudar ou controlar o que você não pode e você se tornará aflito e angustiado.

O que me incomodava

Sempre me perguntei por qual motivo olhamos as coisas com uma espécie de dualismo: ou algo é branco ou é preto; ou é bom ou ruim; ou faz bem ou não faz. Será que é possível encontrar um equilíbrio diante dos acontecimentos da vida? No fundo, somos ensinados assim.

Vivemos numa sociedade que, ou você torce para A ou torce para B. Ou vota em A, ou vota em B. Parece que não existem opções, quando, na verdade, existem centenas de outras opções melhores.

Perceba, não quero dizer que devemos viver nossas vidas sem emoção, sem alegrias, sem tristezas, porque tudo isso faz parte da nossa passagem aqui na Terra. Mas será que as nossas reações diante dos acontecimentos são, de fato, as melhores? Ou temos a tendência a exagerar em nossas reações?

Ainda no ensino médio, lembro que falávamos sobre as eleições, política, economia, e como salvar o Brasil de tudo e de todos. Parece que tínhamos tudo o que era necessário para tornar o Brasil um país de primeiro mundo.

E os anos foram passando, e muitos caíram na real. Entrou governo, saiu governo, entrou político, saiu político, e a vida mudou pouco no geral. E nós brigamos, discutimos, acabamos amizades, tudo isso por acontecimentos que estão fora do nosso controle.

Nós votamos, é claro, mas como o candidato se comportará não está no nosso controle. E se nós nos revoltamos com esse tipo de acontecimento externo, está aí a receita para uma vida aflita e angustiada.

E isso é verdade para qualquer outro aspecto da vida.

O que eu devo fazer então?

Particularmente, acho que Epicteto dá essa resposta tão bem que se eu fosse escrever, não passaria nem perto de sua genialidade. Portanto, deixo mais esse trecho de A Arte de Viver:

Mantenha sua atenção inteiramente concentrada no que de fato lhe compete e tenha sempre em mente que aquilo que pertence aos outros é problema deles, e não seu. Se agir assim, estará imune a coações e ninguém o poderá reprimir.

Está aí um desafio para a nossa vida: encontrar o equilíbrio entre o que podemos ou não controlar, e então focar somente naquilo que controlamos.

6 Comments

  1. Excelente texto amigo, continue a escrever essas reflexões, pois ajudam pessoas ansiosas à olharem pra si mesmas e notarem que são apenas humanas e que muitas vezes o controle da situação não está em suas mãos.

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